Pior que a morte.


Esquizofrenia.

A minha irmã perguntou-me o que era.
Respondi-lhe uma espécie de verdade distorcida, para em mim não doer. "É algo que leva o teu ser e não to trás mais..."
"Então é como a morte?!", questionou-me receosa.
Acenei-lhe, tentando evitar dizer-lhe que era um pouco pior.

Quando esta leva, sabes que não voltará, mas a esquizofrenia é algo mais. É tê-lo ali, tão perto e não lhe poder tocar ou sentir, porque já não é o mesmo. É um corpo sem alma, que só passeia a doença. Não está morto, não. Mas vivo também não está. Deambula sem destino. Não houve falar em ritmo, o compasso é abstracto. Não lhe falem de força que pensa logo que o achamos fraco.

E foste apanhado por ela. Assim tão indefeso. Chegou um momento, em que ninguém sabe mais o que vês, muito menos o que sentes. Costumava conhecer-te, mas hoje, oh hoje.

Deliras, com ideias falsas mas convicções absolutas. Que ninguém to negue nunca, porque sabes o que dizes, não é? Queria acalmar-te, resolver-te as perseguições, as pessoas que no fundo não te olham, deixar-te tranquilo como quando passeavas pelo parque a ver cavalos.

Alucinas em percepções falsas dos teus sentidos. Não te disse nada, ainda que na tua cabeça a minha voz tivesse soado. Desculpa, se soa e se não sei, nem posso calá-la, porque quem me dera sabê-lo.

Altera-te o pensamento. As tuas ideias estão perdidas, confusas, desorganizadas e desconexas. Mas que ninguém ouse afirmá-lo. Estás ciente, claramente ciente e não tens nenhum problema além desse ódio alheio que sentes e é inexistente...

Altera-te a afetividade. Deixaste de saber reagir emocionalmente às circunstancias, tornaste-te indiferente e sem expressão afetiva....

Diminuiu-te a motivação. Perdeste a vontade, estás desanimado e apático, mal és capaz de enfrentar as tarefas do dia-a-dia. Quase não conversas, estás isolado e retraído. Não deixas que te vejam, nem que saibam onde vives.

Para onde levaste a pessoa que costumavas ser?! É pior que a morte. É tão insipidamente cruel e grotesco que te levou para bem longe e te deixou o corpo bem perto. Não és mais o mesmo, não há nada a fazer. Nunca serás novamente tu.

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