Perdi-te sem nunca te ter tido.
Não sei para onde vou, o que faço aqui e deparei-me a ter de saber o que não cabe em mim. Ter de aceitar que foste embora, sem que ao menos viesses. Não sei. Não sei ao certo porque me mantenho assim, mas sei que serias a minha maior alegria nestes dias. Eras a esperança.
Queres que te conte? Serias Madalena, ou quem sabe Duarte e eu? Bem, eu seria muito mais feliz contigo na minha vida. Acredita que seria a melhor madrinha do mundo, ah, eu posso jurar-te. Passei horas a ver roupas e brinquedos para poder condecorar-te. Dar-te-ia o mundo, inclusive o meu. Há, confesso, uma parte de mim que pensa constantemente em ti, como se ter-te no pensamento fosse como ter-te na vida real.. Não é, e não sei até ponto estou prepara para ser madrinha de alguém quando esse alguém não és tu. É idiota, Madalena? Diz-me. Diz-me se é idiota, não aceitar outro afilhado porque ele não és tu.. Imagino o que seria ouvir o teu coração através da máquina, ter-te nos meus braços, pentear os teus cabelos só com a ponta dos dedos e sorrir-te como se me visses nitidamente e soubesses o quão natural aquele sorriso é. Contar-te as histórias da bruxa Mimi ou do indio da selva. Massajar-te o corpo como aprendi à relativamente pouco tempo. Eu não sei se algum dia saberás, receio que não, mas algo me dizia que serias Madalena. Serias mesmo Madalena, por outra que partiu antes de ti, mas sinto e sei que o serias. Nas lojas o rosa puxava-me efusivamente e o azul, que confesso ser a minha cor preferida, não me cativava mais. Não me importaria se viesses com pouco cabelo, com olhos escuros e pele branquinha como a neve. Aceitaria se o oposto sucedesse e acredita, aos meus olhos todos os teus defeitos seriam as melhores qualidades. Precisava de te ter nos braços. Precisava que me tirasses esta impotência e inutilidade que sinto ao ver as noticias. Desejava ter-te nos braços. Desejava ouvir-te chamar-me madrinha. Serias como uma levada de ar fresco e eu a eterna força que travara todos os ventos contrários a ti. Confesso que até eu, eu que não acredito em nada além do fisico e concreto, pedi, naquela noite, a todos os anjos possiveis e imaginários e até àqueles que ninguém imagina existirem que cuidassem de ti, que te trouxessem para mim. A esperança ou esta minha necessidade de encontrar soluções para tudo o que é incapaz de ser resolvido leva-me a acreditar que o melhor foi não teres vindo. Ainda que o coração saiba que agora terias 11 semanas e com isso viria a tua imagem na ecografia, onde já serias um feto e já terias unhas e dentinhos formados. Poderias até dar pontapés que seriam alegremente sentidos por mim. Ainda assim, não aqui estás.. Nem estarás.. E saber disso deixa-me perdida.
Comentários
Enviar um comentário