É arte. A adolescência é isso. É viver algo abstrato e fora do contexto que tem de ser concreto de alguma forma. Eu sempre sonhei chegar a esta fase; acreditava de deixaria de ser vista como uma criança e passaria a ter maturidade suficiente para tomar as minhas próprias decisões. Agora, tenho apenas maturidade suficiente para perceber o porquê do Peter Pan não querer crescer. É que ser adolescente é uma aventura, mas nem todos bons aventureiros. É errado criticar algo de que faço parte, mas há por aí aventureiros que precisavam impreterivelmente de uma bússola, de um mapa ou, quem sabe, de um guia. Quando tu vives uma aventura, tu tens de ter a certeza que, no futuro, ela será uma boa experiencia e não algo que te deixe desiludido. Ser adolescente é querer constantemente ter histórias para contar e essas histórias têm de ser boas para que ser adolescente valha a pena. No entanto, têm inevitavelmente de ser histórias que uma dia, com mais 60 anos do que aqueles que tens agora, quando te sentares à lareira com uma manta sobre as tuas pernas e poderes dizer para um dos teus netos: ‘Ahhh, quando eu era adolescente…’ Aquele suspiro é a demonstração de que a aventura não matou os teus neurónios e não arruinou os teus pulmões. Ser adolescente é não é matar tudo o que há de bom melhor em ti, é crescer ao ponto de tu não sentires necessidade de condicionar a tua vida para seres aventureiro e pertenceres a algo que é maior do que os teus sonhos. Ser adolescente é ter a responsabilidade de tomar decisões e controlar as suas consequências. É claro que ser adolescente é errar, falhar só para poder ter a sensação de como é cair no asfalto, errar de novo, perder-se de amores por uma pessoa que nunca nos encontrou, errar, chegar 5 minutos atrasado à aula e argumentar a desculpa do despertador, errar, mudar de sumo preferido, errar, ter uma negativa, chumbar e abrir uma garrafa de champanhe para festejar, errar, partir o último prato/copo/caneca, errar, andar à chuva mesmo quando temos o chapéu -fechado- na mão, errar, ir até à última paragem do autocarro, sabendo que deveríamos ter saído na 3ª, errar, andar descalço na rua, errar, desligar o GPS para ver até onde chegamos ao confiarmos nos nossos instintos, errar, estar no comboio, na rua, no centro comercial, no parque e fazer a derradeira pergunta “Olá, o meu nome é X, posso conhecer-te?”, errar duas vezes seguidas, acreditar que ainda há alguém que acredite na desculpa do despertador, errar, rir da forma mais alta e estridente na biblioteca só porque teve piada, errar e gostar de ter errado. Mas ser adolescente não é apenas errar, só porque sim, só porque apetece. Ser adolescente é fazer o que achamos que está certo, mesmo que isso seja absurdo para os outros. Ser adolescente é tomar consciência, é receber de braços abertos mas punhos fechados uma responsabilidade, é encorajar o mais fraco e desconfiar do mais forte, é aprender a pensar pela própria cabeça. Felizmente, antes que a adolescência se torne meramente um pesadelo, a maioria de nós temos a capacidade de errar constantemente e, no fim, entender que todos os nossos erros não passaram de pequenas aventuras necessárias. Já que, no fundo, ser adolescente é saber distinguir o facto de se ter vivido 7 435 dias e não apenas 1 dia 7 435 vezes.
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