Ontem passei pelo corredor principal da escola. Estaria, de certo, tudo bem se hoje tivesse sido como em todos os outros dias, mas havia algo que não estava igual. A decoração. Haviam chapéus de chuva no tecto e neles, frases foram penduradas. 'Elahi dissera uma vez à mulher que gostaria que houvesse um cerebeleiro, um homem que penteasse pensamentos, cortasse memórias, alisasse ideias.' Estaria tudo bem, aliás, eu sei, deveria estar tudo bem. No momento, confesso que estava, mas quando caí à cama e olhei para o tecto branco sem qualquer decoração, pensei na hipótese, de todos nós, sermos, secretamente, cerebeleiros da vida. O facto é que todos temos o dom de pentear os nossos pensamentos e até as emoções, talvez não possamos cortar as memórias mas ainda podemos fazer-lhes madeixas para que se tornem mais agradáveis e alisar as ideias é algo que faz bem a qualquer um. Elahi sabe o que diz, só não sabe que o que diz pode ser real. No entanto, para isso estamos cá nós, cerebeleiros. Podemos sempre pentear os seus pensamentos e sussurrar ao seu ouvido que para inseguros já bastam as crianças que receiam a tesoura.
Hoje passei pelo corredor principal da escola. Estava, de certo, tudo bem até porque os chapéus de chuva continuavam pendurados no tecto e as frases permaneciam presas por fios de pesca. Penteei pensamentos, cortei memórias, alisei ideias e por fim, passei pela foto do Elahi e de todas as restantes personagens daquele livro e disse baixinho: "Vens ser cerebeleiro comigo ou serás sempre aquele que nega mudar de penteado?
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