O meu amigo imaginário era um avô.


Lembro-me perfeitamente dos dias em que sonhava com o nosso encontro num mundo real. Confesso que sempre fui uma sonhadora e que espera ansiosa pelo dia em que te iria encontrar. Era tão complicado para mim ouvir todas as minhas colegas da primária comentar o amor que sentiam pelo avô e eu não poder sequer opinar. Então diz-me porquê. Porque nunca surgiste? Eu não me importava com a tua maneira de tentares convencer-me a jogar futebol, sei que não era culpa tua, afinal ninguém teve a capacidade de te oferecer um neto crescido e presente, também não me importava dos inúmeros rabos de cavalo fracassados que tentavas fazer nos meus longos cabelos. Queria apenas uma presença. Queria apenas a tua presença. Perdoar-te-ia todos os erros que cometeste com a avó. Perdoar-te-ia o facto de te manteres ausente sem motivo. Queria apenas a tua presença. Uma presença que de tão presente pudesse fazer sentir-me confiante no futuro. Eu não sonhava com alguém a quem pudesse chamar de "avô". Eu sonhava com alguém que soubesse mostrar-me o que era ser um "avô". Então, diz-me. Responde-me. Grita se possível, daí de cima. Mas dá-me um sinal. Porque nunca apareceste e me mostras-te que os amigos imaginários podem ser reais. Vem cá. Por favor. Eu ainda não sou crescida o suficiente para deixar de receber mimos nos cabelos antes de dormir, beijos na testa e uma história divertida sobre o tempo em que tinhas a minha idade. Porquê? Eu preferia mil vezes que estivesses ao meu lado até ao meu crescimento e depois tivesses de partir, do que nunca teres sequer pisado o meu caminho. Eu sei que parece egoísta, mas pelo menos eu teria algo para lembrar. Se há um desejo que tenho é que um dia eu possa dar aos meus filhos, um avô. Porquê? Porque tê-lo é caminhar na direcção certa com o apoio de alguém que sabe de cor todas as direcções. Porque nunca me quiseste dar nada que me fizesse lembrar de ti? Queria contar-te uma coisa. Eu aprendi a jogar futebol para o caso de um dia vires.

Comentários