Carta com asas.


Não sei ao certo a que dia partiste, mas sei que chorei um oceano inteiro naquela tarde ventosa. Era tão pequena e inocente que pensei na hipótese de tu poderes voltar a qualquer instante para me ver. Ninguém me disse que estava errada. Ninguém me confrontou e me deixou cair em mim, mesmo que demorasse a levantar-me. Fui crescendo com a tua ausência e percebi sozinha que foste a primeira perda que a minha vida teve. Lamento nunca ter podido pedir-te mais um segundo. Lamento não poder contar-te tudo o que já aprendi e tudo o que tenciono aprender, por isso e porque a escrita é o que há de melhor nas minhas aprendizagens, decidi escrever-te esta carta. Passaram cerca de 10 anos e muitas coisas mudaram por estas ruas estreitas por onde todos costumavam conhecer-te. Muitos foram os que partiram depois de ti, mas em compensação foram também muitos os que nasceram e graças a eles percebi qual é o meu caminho. Terminei a primária algum tempo depois de partires e o básico fora uma das maiores conquistas que queria fazer. Continuei a seguir o desporto e tudo o que ele me ensinava procurava transmiti-lo aos outros. No Volei venci o que pude e no Badminton o que consegui. Paira uma medalha sobre as paredes do meu quarto, um primeiro lugar que valeu muito mais em termos de motivação do que propriamente em termos de vitórias. Com a breve estadia pelo 3º ciclo, esperava pela tua ajuda para me auxiliar a escolher o que seguir e sem me dar conta, tu foste o que mais me ajudou. Escolhi as crianças porque quando te tornaste uma das pessoas mais importantes da minha vida, fizeste-lo através desse meio. Auxiliando cada passo e palavra minha. Mais tarde incluíste-me no primeiro grupo em que me deparei e moldaste a minha personalidade de tal maneira que me ensinaste a fazê-lo sozinha. No fim daquele nervosismo que tão bem conhecias, vi-me obrigada a mudar de rotina. Mudar de escola. Levou tempo até me encaixar com cada uma das peças que faziam parte do puzzle que era a minha nova turma. Mas o tempo sempre foi a melhor solução, ele e o desporto, aliás. No ténis aprendi a errar mais do que acertar com o tempo ensinaram-me a acertar um pouco. Um pouco de cada vez. As mudanças têm sido imensas e espero sinceramente que estejas a acompanhar tudo onde quer que estejas.

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