O mar está revoltado, mas ele demonstra-o. Eu acho que já não sei sequer fazê-lo. Talvez devesse encontrar um colete que me deixasse a boiar sobre estas ondas gigantes que se aproximam do chamado 'tsunami', mas não tenho mais forças. Não tenho força nas pernas e sempre que me ergo, o vento derruba-me num sopro leve e curto. Não há ninguém nesta praia que avisto e nenhum avião por estes céus passeia. Estou sozinha. Incrivelmente sozinha. Totalmente sozinha. Sem noção do norte e do sul. Não há qualquer bússola e os mapas foram rasgados à anos. Não sei mais nada, não sei de mais ninguém. Nem mesmo de mim. Afinal, o que eu sou? Desconfio que sou apenas qualquer coisa. Um qualquer coisa que ninguém vê, talvez porque está perdido num barco sem remos, nem vela, nem timão. Sou a pessoa que representa um caminho menos bom, talvez até péssimo. Sou quem faz os outros entenderem o porquê de deverem seguir outros caminhos. Sou quem faz os outros dar valor aos bons caminhos. Nunca fui o mais acertado, nem tão pouco uma opção viável. Sou apenas algo vazio, monotumo e insignificante. Sou apenas algo sem sentido. Sou o pote enquanto que tudo o resto é o arco-íris. Sou a escuridão, enquanto as estrelas brilham. Sou a chuva nos dias de sol. Sou o medo, a mágoa, a frieza, mas sem o conseguir ser. Sou confusa. Estou perdida de perder o mundo. Aliás, será que se um dia, eu ficar perdida num barco, alguém dará pela minha ausência? Deve ser doentio desaparecer e ninguém sentir falta. Tanto ou mais quanto é doentio aparecer e ninguém me ver. É doentio fazer parte e ninguém sentir a minha presença. É doentio perder o que nunca foi meu e não deixar que ninguém me ache porque não há nada para achar. Sou uma ilha sem um tesouro escondido. Sou um barco que não vê os piratas que me procurem. Sou uma ilha que não é procurada. Sou o relógio parado, a foto rasgada, a palavra esquecida. Sou um barco de papel. Sou um barco afundado.
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