Serás a minha maior virtude, o meu melhor defeito.


Quando apareceres quero que saibas que sou como um cubo mágico em que tu desvendas uma face e distrois três ou como o sudoko em que se errares um número erras todos os outros, para sempre. Mas também quero que saibas que sou uma caixinha de música e que se deres à corda, eu irei cantar para ti, mas se me fechares, eu ficarei calada. Conheço-me e sei. Tenho inúmeros defeitos, mas o problema não é deles e sim das pessoas que os enxergam antes de tentarem chegar ao báu das qualidades. Quero que saibas que não quero porra de lugar nenhum, não quero seguir outros passos que não os teus por caminhos que não são nossos, não quero o mundo inteiro, desde a América à Austrália, passando por Paris. Quero um lugar, um único lugar que mesmo sendo pecaminoso, seja nosso, apenas nosso e eu tenho a certeza que eu irei amá-lo só por isso. Só por ser o nosso lugar. Não quero o som de outra voz, a melodia de outra gargalhada, o brilho de outro sorriso, o conforto de outro abraço. Quero-te a ti. Assim. Sendo tu. Quero a tua teimosia que irei odiar por ser sempre maior que a minha. Quero o teu mau humor matinal que tão depressa me deixa mal humorada como me faz rir, a tua barba por fazer que pica o meu queixo sempre que te beijar. Quero o som peculiar da tua gargalhada, os teus cabelos bagunçados ao acordar e o som do teu bocejo quando o despertador tocar para as 7 horas da manhã. Quero os teus cabelos encaracolados, também aceito os lisos ou até mesmo nenhum fio de cabelo, se assim quiseres, sobre a almofada branca onde eu também irei pousar os meus cabelos. Quero a tua voz baixinha perto do meu ouido, o teu sorriso tímido e ao mesmo tempo o seu lado atrevido. Quero deitar-me no teu peito e escutar o compasso da tua respiração, enquanto sinto o toque da tua mão nas minhas costas. Quero ouvir a melodia da tua pulsação quando adormeceres com a mão nos meus cabelos devido às inumeras festinhas que me deste até eu cair no sono, apenas porque era noite de trovoada. E tu saberás o que a trovoada representa para mim. Quero ver-te à minha espera ao portão da escola, segurando a coleira de um cão que será o nosso bebé, incondicionalmente, e quero que o soltes para que ele possa correr na minha direcção e me sujar com as suas patas lamientas. Quero o brilho dos teus olhos quando eu te sorrir e quero a frieza da tua pele quando me abraçares na praia, enquanto o sol tenta aquecer os nossos corpos. Sei lá. Quero acordar ao teu lado, faltar à escola/ao trabalho/ao treino/ao almoço de família apenas para poder ficar contigo, ali, no sofá da sala a fazer conchinha a tarde inteiro, com um tabuleiro à nossa beira e uma manta sobre os nossos corpos enquanto vemos os mesmos filmes românticos que hoje me deixam carente. Quero ir ao cinema, à praia, às piscinas com os escorregas de diversão e até mesmo fazer as compras no supermercado. Quero passear contigo pelas ruelas de Óbidos durante o festival Medieval e sentir o teu abraço apertado quando um dos tantos mascarados me assustar e o meu corpo tremer, também quero visitar o festival do Chocolate e bagunçar-te a boca enquanto te dou a provar qualquer um daqueles docês, sem esquecer a Vila Natal e os ciumes que terei das ajudantes do pai natal que te olharam com tanta atenção. Quero um beijo na testa sempre que sentires necessidade disso e quero aquele teu casaco sobre os meus ombros, apenas porque eu sussurrei um tímido 'tenho frio!'. Quero passar a ponte sobre o Douro e a que também está de pé sobre o Tejo, se possível, quero fazê-lo de bicicleta. Quero visitar o Porto, o Alentejo, Braga, Minho, Serra da Estrela, a Madeira, o Algarve. Quero fugir de ti até Mafra, descer e passar por Sintra, até que me alcances e me abraces pela cintura. Quero percorrer Lisboa de Norte a Sul, passar a ponte e descansar por Almada, num quarto de uma pensão barata que dali a 20 anos ainda saberemos o nome. Quero visitar o Barreiro e antes do nosso autocarro partir de regresso, quero voltar a Setúbal e andar de barco até que os golfinhos sejam avistados por ambos. Quero conhecer o resto do mundo. Paris, Veneza, Madrid, Rio de Janeiro, Londres, Nova Iorque, Moçambique, Marrocos, Cabo Verde, Dubai, Sydney. Mas estará tudo bem se nós não sairmos de nossa casa e se a nossa vida virar uma rotina que será chata para qualquer pessoa menos para nós, porque mesmo sem a Torre EIffel, sem a neve da Serra, sem Times Square e sem a Ilha de Faro, eu serei a pessoa mais feliz do mundo só de te ver correr atrás do Santiago enquanto eu ato as sandálias à Maria. Eu quero discutir contigo pela loiça suja que ninguém quer lavar, pela roupa que não metes na despensa, pela cama que nunca fazes sendo o último a levantar. Quero uma casa apenas para nós, não precisa de ser uma mansão ou uma vivenda enorme, pode ser apenas um pequeno apartamento, uma cabana no meio da praia, uma tenda num pinhal, está tudo bem, aliás, estará tudo bem porque perto de ti, eu irei sentir-me segura e protegida, mesmo que lá fora o mundo grite 'guerra!'. Estarei em paz. Quero entrar na igreja, ver-te à espera e caminhar até ti ao lado do meu pai que mesmo a uns segundos de me entregar ainda vai perguntar 'tens a certeza que não queres voltar para nossa casa?'. E não pai, eu não vou querer, não vou precisar, não vou voltar. Eu estarei tão feliz quanto estava quando saia à noite com os meus 'amigos'. E o motivo ainda será o mesmo. Quero parar de tentar imaginar e quero ainda mais que tudo isto não seja apenas os pedidos que faria ao génio da lâmpada. Tu serás tudo o que eu preciso e eu preciso muito. Serás o meu maior defeito, a minha melhor virtude..

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