Querido Pai Natal,


Há quem comente por aí que já não tenho idade para te escrever, outros avisam-me que não existes. Felizmente, não acredito em nada do que me dizem. Este ano, assim como em todos os outros, vim apenas pedir-te uma prenda. Não depende totalmente de ti, eu sei, mas desde pequena que te vejo como um génio da lâmpada do Aladin que vive mais perto. Então, mais uma vez peço o que sempre te pedi depois dos sapatinhos para a minha irmã. Continua a levar sapatinhos para todas as crianças a quem os médicos disseram que não podiam andar. Continua a levar óculos para quem os médicos disseram que não podiam ver. Continua a levar roupa quente para quem os meteorologistas disseram que não haveria chuva, nem tão pouco neve. Continua a levar comida para quem os ricos disseram que podiam comprar o que quisessem. Continua a levar companhia para quem as pessoas menos boas disseram 'estás sozinho'. Continua a levar doces para quem o tempo tirou os dentes. Continua a levar música para quem os médicos disseram que não podiam ouvir. Continua a levar tudo o que trazes contigo há tantos anos e ninguém sabe. Porque antes de todas as tuas prendas, está a tua alma e a tua alma é o que te pedi para levares. É o conforto da lareira a arder, a paz com cheiro a azevinho, as cinco ou mais horas de vivência familiar, é o concretizar do que disseram ser impossível e os doces na altura mais acertada do ano. É a campainha a tocar e um novo sorriso a surgir, é as gargalhadas dos pequenos e as memórias de natais passados dos grandes. E em cada luz, seja da lareira, das velas, das coloridas bolas da árvore ou da televisão a piscar, surgirá o que há tanto tempo te peço. Surgirá o afecto, a atenção, o convívio e a harmonia destes dias. O Natal. Todos os natais, eu te peço apenas isso mesmo, o natal. Não um natal banal, mas o real natal com tudo o que ele tem o direito de ser. E para não variar peço também a minha casa cheia. Não de prendas, dinheiro ou qualquer outro bem material, quero apenas pessoas. A minha família. Pelos corredores, salas, quartos, casas de banho e sem esquecer a cozinha, quero o sofá cheio e a necessidade de outro, não quero saber quem ganha o Factor X ou a Casa dos Segredos, quero tantos risos e histórias a ser contadas que a televisão, acesa ou não, não tenha qualquer valor, quero ver, respirar e sentir o Natal. Porque é disse que precisamos. De sentir. Peço-te isso. Peço que continues a trazer sentimentos a quem há muito perdeu a capacidade de sentir alguma coisa. Antes de grandes despedidas. Peço que não deixes de trazer tudo isso durante o resto do ano. O natal não é apenas em dezembro, porque também há frio em janeiro, fome no verão e pessoas solitárias em bancos escuros durante a bonita primavera. Então, peço que não vás embora.

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