A saudade que não tens.


Eu prometi-lhe que voltarias. Disse-lhe que corrias à nossa procura e nos abraçarias com toda a força que ainda te restava. Neguei-lhe as lágrimas que caíam com tanta intensidade como a chuva. A mesma chuva que um dia foi neve e tu me ajudaste a juntar, para com ela criarmos o Tobias, o doce boneco de neve que teve de ir embora porque "ele adorava viajar". Enquanto lhe prometia que voltarias tentava convencer-me de que o farias. Porque... todos sabemos. Eu sou uma das pessoas que mais sente a tua falta. Das longas tranças que fazias nos meus cabelos e os vestidos que insistias em mostrar-me. Esforcei-me para acreditar que numa destas tardes chegarias e me abraçarias de novo. Mas cheguei à conclusão de que aquela promessa que lhe fiz, teria de lhe ser negada. É claro que é muito mais fácil ir embora. Eu também acho. Também acho que é muito mais fácil dizer adeus do que prometer não desistir. Eu entenderia na perfeição se fosse qualquer outra pessoa. Mas tu, logo tu que nunca gostaste de seguir os caminhos mais fáceis. Por favor, diz-me porquê. Porque foste? O que mais doeu nem foi a tua partida, foi o facto de teres partido sem dizeres qualquer palavra. Doeu em especial a forma como agiste com naturalidade a tudo o que não tinha nada de natural. Aquele último olhar não foi capaz de deixar cair uma única lágrima e isso faz-me sentir que não há uma pitada de dor aí dentro. Diz-me porquê. Porque foste quando ainda havia tanto a fazer por aqui? Porque escolheste o caminho mais fácil? Porque preferiste ir embora sem dizer nada? Tu não fazes qualquer ideia do quanto eu queria dizer-te algumas palavras. Não tive tempo para te mostrar o quanto era boa no desporto e tu não conseguiste ver-me vencer tudo o que venci desde que partiste. Porquê? Eu queria tanto tê-lo mostrado. Queria ver-te na plateia a aplaudir cada passe meu ou apenas o ponto que eu havia ganho depois de tanto esforço. Eu queria ouvir-te gritar o meu nome quando todos os outros estavam em silêncio. Queria ter-te ali, mesmo quando o resultado não fosse positivo para mim. Sinceramente, eu ainda procuro uma resposta. Tento inventa-las, como se elas pudessem ser tuas para perguntas que eram e ainda são minhas. Era só isso que te pedia. Pedia uma justificação para que o meu coração ficasse preenchido. Tiveste a oportunidade de responder a tudo e mesmo estando a 5 passos preferiste dar 50 e ir embora. Isso é o que doí mais. A saudade não é grande o suficiente? Só queria que me desses um único motivo para o teres feito. Porque, naquele minuto, no minuto exacto em que tu entrasses naquele taxi com destino à capital novamente, eu poderia ter gritado. Nesse segundo em que o taxista impaciente perguntaria se estavas pronta, eu teria a oportunidade de te negar a partida, te olhar nos olhos e pedir para ficares só mais um pouco. Sei o quanto egoísta estaria a ser, mas pelo menos tu estarias ali e eu poderia mostrar-te tudo o que ainda não havias visto. Nunca irei entender porquê, mas todos os dias eu tento perceber-te um pouco mais. Ajuda-me... Diz-me porquê.

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