Textos de amor.


Já escrevi inúmeros. Os remetentes foram alguns, comecei por referi-los no início dos ditos textos, era uma questão de lógica, achava. Depois percebi que o amor não tinha de todo uma lógica concreta, não fazia muito sentido, é algo que surge e te faz acordar e não permanecer na cama. Perguntava-me quanto tempo levaria até que eu encontrasse alguém. Quanto tempo mais eu iria chorar pelo rapaz errado ou sonhar acordada com a falta de um rapaz certo. Perguntava-me o porquê de não ter ninguém que me visse e não que me olhasse apenas. Nos textos, falava das dores que era não ter um remetente fixo, um tal de sempre, um tal de 'tal'. Aquilo não fazia sentido para ninguém, mas na minha cabeça, eu queria alguém. Eu sonhava com alguém. Depois, percebi o conceito do amor, percebi que os remetentes nem sempre eram rapazes esteticamente bonitos, e foi nesse momento que tu surgiste. Começas-te a aparecer em qualquer lugar nos textos e mesmo quando eu não tencionava falar de amores, tu estavas lá. Sempre ouvi dizer que quando se ama alguém, nós ganhamos as suas manias. E a verdade é que as tuas manias me consumiram de tal maneira que moldaram o meu ser, completaram-me, enriqueceram-me. O facto de rir a qualquer segundo não ser uma loucura, mas uma felicidade constante, ou até mesmo o teu jeito de rir. De um texto para o outro, tudo isso passou a ser meu também. Talvez tu não o fosses oficialmente, mas sabia que de alguma forma me pertencias. Percebi-o quando parei no tempo, muitas das vezes eu parava o que estava a fazer e olhava ao meu redor, encontrei-me a rir de coisas tão naturais e com uma graça escondida que nunca ninguém notava, dei por mim a comer naturalmente em lugares públicos como se aquela cadeira de café fosse o meu sofá da sala, descobri-me a olhar para outros rapazes e não querer fazer deles personagens em textos, muito menos remetentes de cartas. E eu sei. Eu não seria isso se não me tivesses feito sê-lo. Foi aí que ganhas-te um nome. No início, eras apenas um remetente comum e no segundo em que criei um nome para te chamar, tu realmente soubeste usá-lo. Alma gémea. Tu sabias fazer-me ser o melhor 'eu' que eu alguma vez imaginei poder ser. Não eras perfeito por natureza, mas eras o que me fazia ser perfeitamente feliz naturalmente. Eras a pessoa certa na hora certa e quando a hora era errada tu continuavas certo, porque o teu poder de perder o tempo era incrível, mas o poder de me ganhar a qualquer segundo era inigualável. Eu deixei de me importar com as vezes que dizia o teu nome. Tornaste-te o meu assunto preferido e eu falava de ti a cada segundo do meu dia, falava de ti sem tapar a boca por arrependimento. Tu simplesmente aparecias na minha mente e eu precisava de te referir, porque tudo me levava a ti, eras sempre a pessoa com quem eu contava e a quem eu queria contar tudo. Não eras uma figura presente, mas estavas ali, em todos os momentos, até nos mais promissores. Eu perdi remetentes depois de te encontrar, mas eu juro que não trocaria nenhum deles por um sorriso teu.

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