Como me sinto hoje.


Numa das primeiras aulas de Psicologia, o professor fez a derradeira pergunta e o pior é que não a fez por educação, ele fê-la com o intuito de realmente saber a resposta. Na altura, pediu-nos que nada disséssemos e que apenas o escrevêssemos. Todas pegaram na caneta e começaram a escrever frases soltas e complexas na folha e eu nada soube. Então, foi isso que lhe escrevi respondendo à pergunta: Como te sentes hoje?
"Eu não sei. Provavelmente foi isso que me levou a demorar tanto tempo para começar a escrever. É tão estranho eu pensar durante horas e horas sobre o que eu própria sinto e no fim dar-me conta que não sei. O mais certo é eu saber, mas não ter as palavras acertadas para o expressar. Há alturas no meu "hoje" em que eu me sinto incrivelmente feliz, como se tudo à minha volta sorrisse docemente. Depois a altura muda e eu noto que eu também mudo. Sinto-me totalmente diferente, como se os sorrisos doces se tornassem falsos sorriso. Comigo isso também acontece. Aliás, quem nunca se sentiu triste e ainda assim sorriu? Surge outra altura do meu dia e eu sinto-me cansada, por vezes cansada de fingir sorrisos, outras vezes cansada de os ver. Quando me sinto cansada de os fingir, eu penso que ao lado de ''reais problemas'', os meus são apenas maus tempos, são coisas que um dia irão passar e também é por isso que eu não os conto a ninguém, porque vai passar. Termino o "hoje", nessa altura, sinto-me confiante e segura de mim mesma, sinto que os meus 'quase' problemas serão apenas uma experiência, uma aprendizagem. Talvez o meu "hoje" tenha mais fases que a lua e quem sabe o meu "talvez" seja sempre uma certeza. No meio de tudo isto, eu sei uma coisa. Qualquer que seja a altura do meu dia, eu irei sentir-me receosa, porque não importa qual é o momento que estou a viver, eu sinto sempre que qualquer pessoa pode ser melhor que eu, sinto que nunca sou o suficiente nem para mim mesma, nem para quem me rodeia. Sinto que não sou a amiga que os meus amigos precisam, a filha que os meus pais mereciam ou até a neta com que a minha avó tanto sonhou. Por muito que eles me digam ou mostrem o contrário, são raras as vezes em que eu o sinto de verdade. É por isso que eu peço sempre o amanhã, porque é a hipótese de eu tentar ser melhor, tentar ser o melhor para eles. Aliás, eu acho sempre que o amanhã será melhor que o hoje.
Eu já sei. Provavelmente foi isso que me levou a demorar tanto tempo para acabar de escrever. Amanhã vai se muito melhor, mas hoje, assim como ontem e talvez porque é a última altura do dia, eu sinto-me confiante."

Comentários