'Aprovado'. Não soube olhar aquela palavra e não sorrir. Era uma alegria tão intensa que mal notei o que aquilo realmente significava. Eu mudo a disposição do meu quarto de 2 em 2 meses e mudo a minha rotina diária todas as semanas, porque não gosto da monotonia dos dias. Não gosto de saber constantemente com o que contar e não gosto da sensação de estar estanque. No dia em que me apercebi que a minha vida iria realmente mudar, senti medo. Ia dar uma volta bem maior do que eu imaginara. Tudo se alterou. O lado bom de mudar o meu quarto e a minha rotina era que era eu quem tinha o controlo e de alguma forma isso fazia-me saber com o que contar. Ali, genuinamente, eu não saberia... Quando me apercebi que estava matriculada noutra escola e noutra turma, a rotina fez-me falta. As caras familiares, as vozes que conhecia de cor, os sorrisos calorosos à entrada, o lugar certo na sala, o conceito de pertença. No segundo em que olhei aquela palavra exposta numa das folhas do quadro de cortiça ao lado da biblioteca, eu já não estava estanque, mas também não estava segura. Estava em mudança. Ia sentar-me ao lado de novas pessoas, ia partilhar a mesma sala com outras caras, ia descobrir sozinha o lugar de cada espaço, ia olhar o mesmo quadro que tantas outras pessoas das quais eu não sabia nada. Não ia estar mais naquela biblioteca e aquele era o meu último quadro de cortiça. Confesso que esperei muito por aquele dia, mas quando ele chegou, senti-me completamente desamparada e sem suporte.
Há alturas da vida em que nós temos, simplesmente, de sair. Sair do bar que nos faz beber, sair do quarto que nos faz chorar, sair do grupo de amigos que nos faz deixar de acreditar na amizade, sair da rotina que nos faz ser monótonos. Mas eu acreditava que não precisava de sair dali, pelo contrário, só precisava de ficar. Estava tão presa àquela forma de ver o mundo e àquela realidade que qualquer outra me parecia indesejável. É tão bom olhar à nossa volta, no meio de um corredor cheio de gente e ver que cada um daqueles rostos é reconhecido pelos nossos olhos, mesmo que muitas vezes mais desconhecido do que achamos. É bom chegar a um sitio onde eu sei exatamente o que me espera e quem me espera...
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