Segurava-te a mão do lado certo do passeio
Ontem, eu vi-te de mãos dadas com outro rapaz. Ele segurava a tua mão do lado errado. Sei que não tenho o direito de opinar, que te magoei como ninguém nunca fez e que não merecia metade dos teus eternos esforços. Aliás, estou aqui ainda à espera que me digas tudo isso, porque tudo é melhor que esse silêncio. Eu pude até ter feito um erro a cada minuto e ter-te feito desistir de mim, mas eu sempre te segurei do lado de dentro do passeio. Nunca deixei que fosses do lado da estrada. Talvez nunca tenhas notado, mas eu fi-lo. Possivelmente foi a única coisa que fiz bem... Também sei que acabei connosco dizendo que não era rapaz para ter apenas uma rapariga. E bem, eu andei com muitas... Eu estive com a rapariga do café onde costumávamos ir, eu conheci melhor a rapariga da loja de roupa e até tentei ter alguma coisa com aquela nossa amiga em comum. Estive com pessoas das quais hoje nem me lembro o nome. Digo-o com tristeza e nunca num tom coberto de ego. Eu estive com tantas raparigas e tão diferentes que a dada altura me perdi, porque quando eu realmente precisava de estar nos braços de alguém, só queria estar nos teus e esses eu nunca mais teria. Chegaram aqueles dias de inverno e normalmente tu estarias comigo, no sofá, a ver televisão e a reclamar de tudo o que eu dissesse. Era tudo o que eu queria ouvir. Eu podia ter-te feito tão feliz. Eu deveria ter-te abraçado nas alturas certas, ter-te dado o conforto das minhas palavras quando só as querias ouvir. Deveria ter-te feito adormecer com festas no cabelo e estar lá na manhã seguinte para te acordar da mesma forma. Deveria ter-te dito o quão bem o branco te ficava e o quão ficavas bela com o cabelo por secar depois do banho. Deveria ter-te contado sobre os meus dias e sobre a forma como os melhoravas. Deveria ter-te levado à praia e ao teatro. Consola-me dizer-te que te segurei do lado certo da estrada, porque em tudo o resto te falhei e sobra-me apenas a esperança de que acredites na possibilidade de que numa segunda oportunidade faria tudo de outra forma. Por favor, agora que tens oportunidade, diz-me o quanto eu te fiz sofrer. Fala-me de todas as vezes que te sentaste, encostada à parede, a chorar, por eu ter sido frio e ter-te deixado sozinha para ir sair com os amigos. Diz-me tudo o que contaste às tuas amigas no dia em que te deixei. Só não digas que já não me amas. Eu sei que fiz tudo errado. Sei que não te abracei pela cintura enquanto cozinhavas e que não te sujei de comida sempre que almoçamos juntos. Eu sei que deveria tê-lo feito. Sei que nunca te levei a caminhar, aliás a correr comigo. Sei que devia ter mostrado o quanto me importava. Deveria também ter insistido e persistido. Sei que nunca te chamei de 'minha namorada' à frente dos meus amigos. Então, ralha. Esperneai. Mas não hajas com indiferença. Faz-me lembrar o quanto tu odiavas queijo e a quantidade de vezes que te ofereci a minha sandes mista ao lanche. Faz-me lembrar o nome dos teus chocolates preferidos e o facto de eu só te oferecer os que não gostavas. Discute comigo por nunca te ter oferecido um comando da playstation para jogarmos juntos. Deveria ter gritado ao mundo o quanto tu eras importante na minha vida. Eu deveria ter-te feito cocegas todas as vezes que choras-te a ver o Nemo. Ralha comigo por nunca ter ido ver os teus jogos de ténis, os de volei e nunca te ter aplaudido como sempre fazias para comigo. Eu nunca percebi que aquele 'nada', eras tu a morrer de ciúmes e nunca vi a forma como os teus olhos brilhavam quando me olhavas. Eu sei que não me mereço as tuas palavras, mas egoistamente quero ouvi-las. Quero sentir que ainda te tenho por mais um minutos. Não quero que me desculpes. Não mereço que me desculpes. Mas eu segurava-te do lado de dentro do passeio, espero que isso te diga alguma coisa. Não consigo ver-te segurar a mão de outro rapaz. Diz-me que ele te faz feliz, diz-me que ele sabe fazer aquilo que eu nunca fiz. Se não me amas mais, tudo bem, tens todo o direito de me mandar embora, nem que seja apenas por ódio de mim, mas se ainda te lembras do dia em que te liguei e tu me atendeste o telemóvel preocupada. Se te lembras que nessa noite ficarmos a falar e a rir até tarde e de ouvires tudo o que eu tinha para te dizer. Se te lembras de cada assunto de que falamos e do número de vezes que disse que te amava antes de ganhar coragem para ir dormir e te deixar sossegadinha. Sorri. Sorri para mim uma última vez. Quero sentir que ainda te tenho por mais um minutos. Eu juro que vou embora e te deixo ser feliz. Não te atormento e não te perturbo mais. Mas por favor, deixa-me ao menos ter um sonho bom esta noite. Faz um ano desde que eu entendi que não há nada que eu amo mais além do teu sorriso. Por isso, deixa-me vê-lo, uma última vez e com isso, ter-te e ser feliz por uns minutos.
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